quarta-feira, 2 de março de 2011

DIFERENÇAS E TRIBOS. REALIDADES ADAPTADAS.

Achei que, passado um tempinho do lamentável episódio do atropelamento dos ciclistas em Porto Alegre, eu deveria colocar minha opinião aqui no blog.

Li muito, vi muitas imagens e vídeos sobre o fatídico protesto da Massa Crítica em Porto Alegre. Já escrevi neste blog sobre as diferenças entre automóveis e bicicletas, na ocasião em que faleceu o Sr. Liberato Geraldi, ciclista da nossa região, e dei à matéria o título de "NOVA ORDEM NO TRÂNSITO: MATE O CICLISTA".
Depois do evento de Porto Alegre o post pareceu profético. Na verdade foi somente a constatação do inevitável. Cheguei a postar a imagem seguinte. A diferença é que o motorista da imagem abaixo estava embriagado. Também criminoso, mas despido de DOLO, que vazava pelos poros de Ricardo José Neis, motorista do Golf Preto.




Sabem o que me deixa puto?! É que vestido de Golf Preto uma pessoa se achou no direito de passar por cima de um grupo inteiro de pessoas!!!

O problema é cultural!
O brasileiro, de uma forma generalizada, pensa somente no próprio umbigo. Está desacostumado com honestidade e precisa de leis, apesar de não tê-las, porque de per si não consegue respeitar o semelhante.
Somos quase todos delinquentes e bandidos em maior ou menor escala (tese).
Outro dia meu irmão, que é defensor desta tese, estava conversando com um amigo que jurava de pé junto não cometer qualquer tipo de delito. E no meio de uma conversa informal, tiração de sarro, este nosso amigo sacou o notebook, COM SISTEMA PIRATA. "Ah, mas o original é muito caro!!!" É. Mas o falsificado é crime. E compra DVD pirata, e baixa filme e música na faixa na internet, etc., etc., etc....
Onde quero chegar: o brasileiro, acostumado com leis brandas, e debaixo da desculpa de que os pequenos delitos são permitidos diante de um governo corrupto, onde tudo se faz por suborno e falcatruas, o que torna sua vida dura demais e cara demais, tem suas próprias interpretações de lei e de moral (certo e errado).

O duro é que, numa sociedade desenvolvida, onde todos se respeitam, é quase desnecessária a intervenção do Estado com suas leis: a coisa vai bem sozinha. O povo é educado o suficiente para colocar a preferência do outro na frente da sua.

Mas o brasileiro não. Nós, na nossa esmagadora maioria, observamos os acontecimentos e, sem maiores informações, interpretamos e já fazemos nossa sentença. E a executamos. É o nosso mundo. É somente o que importa. Não temos lei que seja suficientemente forte para conter esse nosso instinto.

E li de tudo. Teve gente que defendeu o posicionamento do motorista do Golf Preto. Teve gente que defendeu que os ciclistas podem tudo, porque os carros são ferramentas opressoras de uma organização social que prioriza o consumo e a falta de tempo. E com certeza teve gente que nem se deu ao trabalho de pensar no assunto. Não lhe diz respeito.

Daí a lei fala o seguinte: bicicletas são veículos. E tem preferência nas ruas. Ponto final. A lei disse. O que deveria ser NOTÓRIO, que o ciclista é frágil e extremamente exposto, precisa estar na lei porque o motorista brasileiro é incapaz de perceber, mesmo que o ciclista esteja estourando os miolos em seu parabrisa!

E falo com autoridade porque preciso de carro, e dirijo todos os dias. E sou pé de chumbo. Mas respeito e presto atenção a todos ao redor, especialmente aos mais expostos. Culpar os ciclistas pelo atropelamento daquela sexta-feira é mais ou menos como culpar uma mulher vítima de estupro, por estar usando roupas provocantes. Achei interessante a comparação feita nesse blog aqui.

Em Porto Alegre, naquele dia, a coisa era um protesto. Podia ter sido previamente comunicado à competente Secretaria. Mas não necessariamente. A intenção era exatamente a de causar desconforto. Chamar a atenção.
Se eu fosse passar por cima de cada protesto ou manifestação que já presenciei, eu estava na roça!
Corpus Cristi da Igreja Católica, teria que acontecer na calçada. Trio elétrico na Bahia tinha que ser em estádio. Passeata gay em São Paulo tinha que rolar dentro do Shopping Frei Caneca.

Uma vez furei a mão com uma chave de fenda. Sangrava que nem ladrão de caixa d'água. Minha esposa pegou o carro e fomos para o pronto socorro. Na rua do hospital UMA PASSEATA!!! Minha esposa botou a cara pra fora da janela, gritava e buzinava!! Ela pediu. Bradou, mas PEDIU passagem. Não fez boliche de gente.
Ela sabia o significado de SEMELHANTES. Opiniões são divergentes, não nós. Nós somos semelhantes. Nós nascemos em cima do mesmo planeta e o GOLF PRETO do Ricardo José Neis, ou seu filho de 15 anos, ou seu advogado que jura que ele é doidinho, não lhe conferem o direito de passar por cima de ninguém.

Meu, preto no branco: o cara ficou puto, e passou por cima. Estava com pressa e se sentiu violado em seu direito de locomoção quando viu a rua bloqueada por "ciclistas baderneiros".
Li muitos comentários em vários posts e matérias fazendo alusão aos ciclistas como vagabundos. Vagabundos porque pedalam? Eu pedalo, trabalho 10 horas por dia, tenho mulher e duas filhas, e ponho comida em casa. Vamos rever o conceito de vagabundagem, ok?!

Outra: calçada é pra pedestre. Se a lei define que bicicleta deve andar na rua, onde não houver ciclovias em condições apropriadas, e que tem preferência sobre os carros, é assim que deve ser.
Protesto é protesto, seja de ciclistas, pandeiristas ou religiosos. Todos têm o direito de se expressar.
E todos devemos respeitar.
Concordar é outra história, mas respeitar SEMPRE.

Paulinho

Um comentário:

  1. Legal Paulinho...é por aí mesmo...

    sÓ LEMBRANDO QUE PRA ANDAR DE BICICLETA (VEÍCULO DE PROPULSÃO HUMANA) não precisa de autorização de ninguem...

    Ah,mas são 500 bicicletas juntos...e daí??? coincidentemente,as 500 bikes estavam no mesmo lugar e na mesma hora...

    grande abraço.

    Ramiro.

    ResponderExcluir